Olá todos!
Talvez hoje seja um dos dias mais especiais para o doc "A Luz da Lamparina": depois de mais de um ano de pesquisa e imersão com o grupo de cinema de Brodowski, estamos publicando nossa primeira triagem audiovisual.
Como foi anunciado antes, a idéia é que vocês possam acompanhar o blog e conhecer um pouco mais de nossos personagens através dos miniDOCs. Queremos ouvir opiniões, sugestões ou quaisquer outros ões que possam contribuir com a nossa caminhada.
Pensamos fazer os miniDOCs com todos os personagens que achamos importantes para o nosso filme. Esse processo será importante para analisarmos melhor o rumo que estamos tomando, tanto em termos estéticos quanto em conteúdo verbal. Ou seja, a proposta é fazer desse espaço o nosso laboratório experimental: uma boa oportunidade de realizar, publicar e receber o feedback de vcs.
O primeiro personagem escolhido foi a simpatissíssima Rosalina. Ela ja participou de vários filmes do grupo de cinema de Brodowski e está sempre presente nas reuniões do grupo, junto de seu marido Zé Pedro. Vamos conhecer mais da Rosalina através do miniDOC.
"A Luz da Lamparina"
miniDOC - Rosalina e o Café
sábado, 4 de setembro de 2010
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Teaser do DOC
Teaser do nosso DOC, esperamos que vocês gostem
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Idéias sobre o tempo
Saio da chamada grande metrópole brasileira, a big babilônia tupiniquim e caio direto na pequena Brodowski. A frequência temporal se desacelera em um estalo de dedos. Meus ouvidos e olhos relaxam e aquele bombardeio de imagens e sons são substituídos por uma calmaria que de início se assemelha ao silêncio, mas logo a nova textura imagética e sonora ganha forma. Os olhos e ouvidos começam prestar atenção em pequenos detalhes da paisagem: o campo de futebol com a grama bem baixa e seca, de um verde que se confunde com o marrom; os gritos das crianças brincando nas ruas e o resmungar dos cachorros se espreguiçando embaixo da sombra de uma árvore se escondendo do calor.
O tempo não corre, se arrasta, dando a possibilidade para que as pessoas se conheçam. Ao contrário das grandes cidades onde você não conhece seu vizinho, em Brodowski você sabe quem são os moradores da sua cidade, lá ainda é possível você perguntar pela rua: "Onde mora o Clóvis da geladeira?" ou "Onde trabalha o Magalini da Kombe?" e obter uma resposta satisfatória.
Aqui todo evento é um grande evento, a cidade para e reconhece o momento, assim como quem vem de fora para assistir o por do sol se escondendo por trás da cidade. Nossos atores tem tempo de ir a câmara municipal para passar a vista no jornal do dia e adiantar a conversa que estava atrasada. Mas hoje sou eu que não tenho mais tempo. Olho pro relógio e tenho que voltar, vou pegando a estrada e o tempo volta a correr...
O tempo não corre, se arrasta, dando a possibilidade para que as pessoas se conheçam. Ao contrário das grandes cidades onde você não conhece seu vizinho, em Brodowski você sabe quem são os moradores da sua cidade, lá ainda é possível você perguntar pela rua: "Onde mora o Clóvis da geladeira?" ou "Onde trabalha o Magalini da Kombe?" e obter uma resposta satisfatória.
Aqui todo evento é um grande evento, a cidade para e reconhece o momento, assim como quem vem de fora para assistir o por do sol se escondendo por trás da cidade. Nossos atores tem tempo de ir a câmara municipal para passar a vista no jornal do dia e adiantar a conversa que estava atrasada. Mas hoje sou eu que não tenho mais tempo. Olho pro relógio e tenho que voltar, vou pegando a estrada e o tempo volta a correr...
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Uma tarde na fazenda de Rosalina
São 4 horas da manhã, o dia ainda é noite quando eles levantam e partem rumo a kombi que já espera do lado de fora. A sua rotina é outra, como iria me contar mais tarde um deles. Até os hábitos alimentares são outros: o almoço sai as 9h, meio dia já estão comendo o café da tarde. E foi entre o almoço e o café que chegamos a fazenda da dona Rosalina. Os “catadores” de café já estavam trabalhando em marcha forte, mas nossa presença não deixou de causar um reboliço no grupo: “espera um pouco pra começar a gravar que eu vou passar um batom” disse uma das “catadoras” em tom de brincadeira. Um deles, um senhor um pouco mais velho que a maioria do grupo, ficou acompanhando nossa gravação, ensinando passo a passo os processos da colheita do café. Ele que em meio a toda a modernidade do agronegócio, mantém nas pequenas fazendas, como a da Rosalina, um processo totalmente manual de colheita para o café e para o preparo do seu consumo.
Essas pequenas fazendas aparecem, em meio aos oceanos da monocultura de cana de açúcar, como mantenedoras de antigas tradições da região. Tanto no plantio quanto na cultura, Rosalina explica que o custo e o trabalho que ela tem pra manter o café não vale a pena se comparados com o plantio de cana, mas mantém os cafezais, em nome da preservação de uma memória, sua memória afetiva e histórica.
Ainda na prosa que tivemos sobre como era a fazenda antigamente, nesse tempo de recordar e revivificar sua lembranças, ela começa a contar sobre as festas que vinham para a fazenda, folia de reis, e outras manifestações. Conta como as fazendas se preparavam para os festejos e nos diz dos truques que as meninas faziam para dançar com o rapazes que elas paqueravam. Aos poucos estas festas estão parando de vir para as fazendas daqui, conta ela.
Um detalhe importante é que esse papo estava acompanhado de um cheiro delicioso de comida que vinha da cozinha. Pausa para o nosso almoço e para o café da tarde dos catadores, um cochilo na rede para fazer a digestão e depois bora lavar o café...
Um detalhe importante é que esse papo estava acompanhado de um cheiro delicioso de comida que vinha da cozinha. Pausa para o nosso almoço e para o café da tarde dos catadores, um cochilo na rede para fazer a digestão e depois bora lavar o café...
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Novos rumos para o blog
Olá para todos!
Estamos propondo um novo rumo para o blog. Gostaríamos que vocês acompanhassem passo a passo o que está acontecendo na produção do documentário, nossa impressões dos dias de filmagens, tratamentos dos personagens, como uma espécie de diário de campo que nos auxilie no processo final .
A idéia é que o blog se torne uma proposta audiovisual dentro do documentário. Bom, como estamos propondo algo novo, esperamos a participação de todos. Depois,de acordo com as novas postagens vocês irão intender um pouco melhor nossa proposta.
A idéia é que o blog se torne uma proposta audiovisual dentro do documentário. Bom, como estamos propondo algo novo, esperamos a participação de todos. Depois,de acordo com as novas postagens vocês irão intender um pouco melhor nossa proposta.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Princípio de tudo...
A idéia do documentário surgiu a partir do convite de uma amiga para assistirmos a estréia do filme “Sementes do Mal”, que aconteceu em um pequeno salão alugado, situado em Brodowski, cidade do interior paulista. Brodowski é uma cidade de aproximadamente 20 mil habitantes, simples, com um legado cultural muito importante: Cândido Portinari nasceu e iniciou sua carreira como pintor lá, o que é motivo de orgulho para toda a cidade, que ainda mantém viva a memória do artista através do Museu Casa de Portinari.
“Sementes do Mal” é o 10º longa-metragem produzido na cidade. Assistindo ao filme, nossa primeira surpresa se deu, quando nos demos conta, de que o mesmo senhor que nos ajudou a estacionar o carro, e que também estava tomando conta da portaria do salão, era um dos atores principais. No local viam-se pessoas simples (a maioria atores do filme) fritando salgadinhos e distribuindo refrigerantes. Não havia uma separação clara entre a tela de exibição, as pessoas que circulavam no salão e a fumaça do tacho onde os salgadinhos eram feitos. Tudo se apresentou com uma naturalidade tão grande, que nos fez perceber um novo modo do cinema estar envolvido na vida das pessoas, e, logo assim, desta forma tão peculiar.
Era algo extremamente leve, que nos tocou tanto pelo modo como era feito, como pela proximidade com a qual fomos incluídos. O envolvimento afetivo parecia emanar de todos que estavam presentes. Nos sentimos acolhidos imediatamente.
Com a exibição, víamos as pessoas apontarem para a tela, reconhecendo seus amigos e parentes, o que parecia muito divertido pelas risadas e pelo clima alegre, quase cômico, que havia se instaurado no salão. A cidade assim se identificava na tela, e nós nos identificávamos com as relações ali compostas – em uma atmosfera onde o fazer cinema é ponto de convergência destes afetos.
O grupo de Brodowski é composto em sua maioria por senhores com mais de sessenta anos, amantes dos antigos cinemas westerns e dos grandes clássicos do cinema mundial. Mith, diretor do filme, diz que fora muito influenciado pelo cinema noir americano e por outros cinemas de detetives e crimes. Em Brodowski, ainda segundo Mith, eles tentavam fazer algo parecido com isso. Curiosamente, sempre existiam muitas cenas de humor até o desvendamento do enigma se dar. Parecia ser a marca do grupo: olhar as coisas com bom humor e fazer as pessoas se divertirem.
Nos demos conta de que tinhamos sido testemunha de um "cine artesanal", alegre e leve, que na contra partida de toda a glamourização em torno do cinema, nomeava a si próprio como "cinema caipira" e fazia questão de colocar em sua simplicidade a força principal do grupo. A partir desse encontro nos ocorreu a idéia de fazer um documentário sobre essa forma "descontraída" e apaixonada de realização audio visual.
terça-feira, 13 de abril de 2010
Magalini
Magalini é bem antigo no grupo, participa desde o início em 1994. Ele gosta muito de encenar personagens de época e acha que estar no grupo de cinema de Brodowski é uma terapia, pois lá ele esquece de todos os seus problemas e se dedica inteiramente aos personagens que representa.
No seu dia a dia Magalini tem uma "perua-kombi" que leva toda a criançada da região para a escola. Ele acorda bem cedo (em torno de cinco horas da manhã) para pegar crianças em fazendas e sítios mais distantes e levar para a escola. Ele gosta muito dessa atividade pois vê o sol nascer todos os dias na companhia de crianças alegres a saudáveis, como ele mesmo diz.
No seu dia a dia Magalini tem uma "perua-kombi" que leva toda a criançada da região para a escola. Ele acorda bem cedo (em torno de cinco horas da manhã) para pegar crianças em fazendas e sítios mais distantes e levar para a escola. Ele gosta muito dessa atividade pois vê o sol nascer todos os dias na companhia de crianças alegres a saudáveis, como ele mesmo diz.
Nina
(foto: Raquel Rotta)
Nina é uma adolescente que gosta muito de falar ao telefone com as amigas (até mesmo quando esta nas filmagens). Ela quer fazer faculdade de teatro ou psicologia (ainda esta na dúvida). Ela faz a personagem principal do filme Amargo Regresso e em seu dia a dia é estudante assídua e dedicada.
Zé Carlos
(Nessa fotografia Zé Carlos aparece ao lado de Seu Clóvis treinando sua fala para a gravação de uma das cenas do filme)
Segundo o pessoal do grupo, Zé Carlos é o galã principal do filme, pois além de ser o mais novo, Zé tem um olhar que "seduz até o câmera man". Ele interpre o Saul, personagem principal do filme Amargo Regresso, e, que com seu charme, (mas nenhum escrúpulo) seduz a jovem cunhada Nina. Ele gosta muito de fazer churrasco, pescar e tomar suas "biritas".
Mith
(foto: Raquel Rotta)
Mith é o diretor do filme Amargo Regresso, ele nos diz que se sente filho do cinema e explica que na sua vida tudo se deu "na porta do cinema": a primeira namorada, a primeira paixão pelos filmes, as brigas com os outros rapazes da época. Por isso, Mith acha que se criou junto com o cinema, desde criança até hoje. Ele sente saudade do tempo em que as pessoas se arrumavam todas para irem ao cinema, com paletós, gravatas e vestidos longos. Ele gosta muito da Audrey Hepburn, da Marilyn Moroe e de filmes de detetives. Mith era bancário em Brasília e atualmente esta aposentado.
As crianças
(fotografia: Raquel Rotta)
Volta e meia aparecem nas filmagens algumas crianças que atuam como figurantes, ou como os personagens principais em seus tempos de infância. São netos ou sobrinhos do pessoal do grupo. Na ocasião do dia dessa filmagem, o Mith preparou uma cena com brinquedos característicos da época do filme Amargo Regresso (1930), como estilingue e espingardinha de chumbo.
Seu Cadamuro
(fotografia: Raquel Rotta)
Seu Cadamuro gosta muito de participar dos eventos culturais da cidade. Ele é "puxador" de quadrilhas em festas juninas e organiza festas folclóricas. Nos disse que gosta de inventar frases para puxar as quadrilhas, pois acha aquelas frases de "olha a chuva" "é brincadeira.." muito bobas. Ele gosta de provocar os pares da dança e observar a reação do pessoal. Ele também não gosta muito da câmera, pois a acha estranha, como uma coisa que para a gente no tempo. Além de ser puxador de quadrilha seu Cadamuro tem o título de cidadão da cidade de Brodowski pela sua constante participação e auxílio em vários eventos que ocorrem na cidade. Ele é o integrante mais velho do grupo (de idade) e atualmente esta com 85 anos.
Seu Armandinho
(Fotografia Raquel Rotta)
Seu Armando, mais conhecido como Seu Armandinho, gosta muito de contar piadas, imitar atores famosos e fazer brincadeiras, que, como ele mesmo diz, são "estripolias com o povo". Ele gosta muito de levar as pessoas para conhecerem lugares novos. Muito bem disposto costuma a dizer que apesar da sua idade ele se sente "com o coração de muleque", pois gosta muito de jogar futebol e soltar pipas com os netos. Ele vive "pra lá e pra cá" trabalhando. No seu dia a dia Seu Armandinho trabalha como pedreiro e já tem uma lista de espera para fazer as casas da cidade, pois é muito "bem quisto" e conversa com todo mundo. No cinema da cidade, ele diz que gostaria de ter papéis mais importantes, ou até mesmo o principal, porque gosta muito de ser ator e se dá bem com todo mundo.
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Dona Aureni
Dona Aureni é conhecida pelo grupo como a Dercy Gonçalves de Brodowski. Todos a consideram muito alegre, animada e desbocada. Ela diz aquilo que tem vontade de dizer e não se constrange com as censuras dos colegas do grupo. Diz só ter se aproximado do cinema após a morte de seu marido, que era muito ciumento e possessivo e não a deixava fazer nada. Ela vê no cinema uma possibilidade de ser pessoas diferentes do que ela já foi ou é, pois cada personagem é como uma nova aventura a ser vivida. No seu dia a dia Aureni trabalha em casa e adora fazer quitutes para os familiares e para os amigos do grupo de cinema.
Seu Clóvis
(Fotografia Raquel Rotta)
Seu Clóvis é um dos membros mais antigos do grupo, comparecedor assíduo de todas as reuniões e ensaios, ele é conhecido por sua grande habilidade em interpretar e declamar poesias. Seu ator favorito é o Lima Duarte, com o qual se identifica de forma extremamente afetiva, pois, segundo ele, Lima Duarte nasceu na mesma cidade de alguns de seus parente. Seu Clóvis gosta muito de conversar, contar histórias de fazenda (de quando era menino) e falar sobre filmes de bang-bang, que é o gênero que ele mais aprecia no cinema. No dia a dia seu Clóvis trabalha numa loja de assistência técnica para eletrodomésticos (especialmente geladeiras, que é sua maior demanda) da qual também é proprietário. O cinema em sua vida, segundo nos disse, é uma grande paixão, encenar é para ele uma realização de seus desejos.
terça-feira, 6 de abril de 2010
E tudo começou assim...
(Fotografia: Raquel Rotta)
A idéia do documentário surgiu a partir do convite de uma amiga para assistirmos a estréia do filme “Sementes do Mal”, que aconteceu em um pequeno salão alugado, situado em Brodowski, cidade do interior paulista. Brodowski é uma cidade de aproximadamente 20 mil habitantes, simples, com um legado cultural muito importante: Cândido Portinari nasceu e iniciou sua carreira como pintor lá, o que é motivo de orgulho para toda a cidade, que ainda mantém viva a memória do artista através do Museu Casa de Portinari.
“Sementes do Mal” é o 10º longa-metragem produzido na cidade. Assistindo ao filme, nossa primeira surpresa se deu, quando nos demos conta, de que o mesmo senhor que nos ajudou a estacionar o carro, e que também estava tomando conta da portaria do salão, era um dos atores principais. No local viam-se pessoas simples (a maioria atores do filme) fritando salgadinhos e distribuindo refrigerantes. Não havia uma separação clara entre a tela de exibição, as pessoas que circulavam no salão e a fumaça do tacho onde os salgadinhos eram feitos. Tudo se apresentou com uma naturalidade tão grande, que nos fez perceber um novo modo do cinema estar envolvido na vida das pessoas, e, logo assim, desta forma tão peculiar.
Era algo extremamente leve, que nos tocou tanto pelo modo como era feito, como pela proximidade com a qual fomos incluídos. O envolvimento afetivo parecia emanar de todos que estavam presentes. Nos sentimos acolhidos imediatamente.
Com a exibição, víamos as pessoas apontarem para a tela, reconhecendo seus amigos e parentes, o que parecia muito divertido pelas risadas e pelo clima alegre, quase cômico, que havia se instaurado no salão. A cidade assim se identificava na tela, e nós nos identificávamos com as relações ali compostas – em uma atmosfera onde o fazer cinema é ponto de convergência destes afetos.
O grupo de Brodowski é composto em sua maioria por senhores com mais de sessenta anos, amantes dos antigos cinemas westerns e dos grandes clássicos do cinema mundial. Mith, diretor do filme, diz que fora muito influenciado pelo cinema noir americano e por outros cinemas de detetives e crimes. Em Brodowski, ainda segundo Mith, eles tentavam fazer algo parecido com isso. Curiosamente, sempre havia muitas cenas de humor até o desvendamento do enigma se dar. Parecia ser a marca do grupo: olhar as coisas com bom humor e fazer as pessoas se divertirem.
Nos demos conta de que tinhamos sido testemunha de um "cine artesanal", alegre e leve, que na contra partida de toda a glamourização em torno do cinema, nomeava a si próprio como "cinema caipira" e fazia questão de colocar em sua simplicidade a força principal do grupo. A partir desse encontro nos ocorreu a idéia de fazer um documentário sobre essa forma "descontraída" e apaixonada de realização audio visual.
“Sementes do Mal” é o 10º longa-metragem produzido na cidade. Assistindo ao filme, nossa primeira surpresa se deu, quando nos demos conta, de que o mesmo senhor que nos ajudou a estacionar o carro, e que também estava tomando conta da portaria do salão, era um dos atores principais. No local viam-se pessoas simples (a maioria atores do filme) fritando salgadinhos e distribuindo refrigerantes. Não havia uma separação clara entre a tela de exibição, as pessoas que circulavam no salão e a fumaça do tacho onde os salgadinhos eram feitos. Tudo se apresentou com uma naturalidade tão grande, que nos fez perceber um novo modo do cinema estar envolvido na vida das pessoas, e, logo assim, desta forma tão peculiar.
Era algo extremamente leve, que nos tocou tanto pelo modo como era feito, como pela proximidade com a qual fomos incluídos. O envolvimento afetivo parecia emanar de todos que estavam presentes. Nos sentimos acolhidos imediatamente.
Com a exibição, víamos as pessoas apontarem para a tela, reconhecendo seus amigos e parentes, o que parecia muito divertido pelas risadas e pelo clima alegre, quase cômico, que havia se instaurado no salão. A cidade assim se identificava na tela, e nós nos identificávamos com as relações ali compostas – em uma atmosfera onde o fazer cinema é ponto de convergência destes afetos.
O grupo de Brodowski é composto em sua maioria por senhores com mais de sessenta anos, amantes dos antigos cinemas westerns e dos grandes clássicos do cinema mundial. Mith, diretor do filme, diz que fora muito influenciado pelo cinema noir americano e por outros cinemas de detetives e crimes. Em Brodowski, ainda segundo Mith, eles tentavam fazer algo parecido com isso. Curiosamente, sempre havia muitas cenas de humor até o desvendamento do enigma se dar. Parecia ser a marca do grupo: olhar as coisas com bom humor e fazer as pessoas se divertirem.
Nos demos conta de que tinhamos sido testemunha de um "cine artesanal", alegre e leve, que na contra partida de toda a glamourização em torno do cinema, nomeava a si próprio como "cinema caipira" e fazia questão de colocar em sua simplicidade a força principal do grupo. A partir desse encontro nos ocorreu a idéia de fazer um documentário sobre essa forma "descontraída" e apaixonada de realização audio visual.
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