terça-feira, 6 de abril de 2010

E tudo começou assim...

(Fotografia: Raquel Rotta)

A idéia do documentário surgiu a partir do convite de uma amiga para assistirmos a estréia do filme “Sementes do Mal”, que aconteceu em um pequeno salão alugado, situado em Brodowski, cidade do interior paulista. Brodowski é uma cidade de aproximadamente 20 mil habitantes, simples, com um legado cultural muito importante: Cândido Portinari nasceu e iniciou sua carreira como pintor lá, o que é motivo de orgulho para toda a cidade, que ainda mantém viva a memória do artista através do Museu Casa de Portinari.
“Sementes do Mal” é o 10º longa-metragem produzido na cidade. Assistindo ao filme, nossa primeira surpresa se deu, quando nos demos conta, de que o mesmo senhor que nos ajudou a estacionar o carro, e que também estava tomando conta da portaria do salão, era um dos atores principais. No local viam-se pessoas simples (a maioria atores do filme) fritando salgadinhos e distribuindo refrigerantes. Não havia uma separação clara entre a tela de exibição, as pessoas que circulavam no salão e a fumaça do tacho onde os salgadinhos eram feitos. Tudo se apresentou com uma naturalidade tão grande, que nos fez perceber um novo modo do cinema estar envolvido na vida das pessoas, e, logo assim, desta forma tão peculiar.
Era algo extremamente leve, que nos tocou tanto pelo modo como era feito, como pela proximidade com a qual fomos incluídos. O envolvimento afetivo parecia emanar de todos que estavam presentes. Nos sentimos acolhidos imediatamente.
Com a exibição, víamos as pessoas apontarem para a tela, reconhecendo seus amigos e parentes, o que parecia muito divertido pelas risadas e pelo clima alegre, quase cômico, que havia se instaurado no salão. A cidade assim se identificava na tela, e nós nos identificávamos com as relações ali compostas – em uma atmosfera onde o fazer cinema é ponto de convergência destes afetos.
O grupo de Brodowski é composto em sua maioria por senhores com mais de sessenta anos, amantes dos antigos cinemas westerns e dos grandes clássicos do cinema mundial. Mith, diretor do filme, diz que fora muito influenciado pelo cinema noir americano e por outros cinemas de detetives e crimes. Em Brodowski, ainda segundo Mith, eles tentavam fazer algo parecido com isso. Curiosamente, sempre havia muitas cenas de humor até o desvendamento do enigma se dar. Parecia ser a marca do grupo: olhar as coisas com bom humor e fazer as pessoas se divertirem.
Nos demos conta de que tinhamos sido testemunha de um "cine artesanal", alegre e leve, que na contra partida de toda a glamourização em torno do cinema, nomeava a si próprio como "cinema caipira" e fazia questão de colocar em sua simplicidade a força principal do grupo. A partir desse encontro nos ocorreu a idéia de fazer um documentário sobre essa forma "descontraída" e apaixonada de realização audio visual.

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